quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Círculo de Autores



Susana Paula


«No centro de Lisboa, bem perto dos jardins da Gulbenkian, um apartamento. Tipicamente lisboeta, escuro, apesar das janelas altas. A sala, pintada de verde, não amplifica a pouca luz que vem da janela, pouco depois das quatro da tarde. O que dá luz ao apartamento são os livros. Livros por toda a parte. Empilhados desordenadamente, ora deitados, ora em pé, ora de uma qualquer maneira. Quem os arrumou sabe onde estão. »

«Milhares de fotografias também iluminam a casa. Alice Vieira aparece em quase todas. Alice com um amigo, Alice com outro amigo, Alice e outro. Alice com os netos. Alice com os filhos. Enfim, Alice Vieira entre os livros. Alice entre os amigos.
Os primeiros amigos de Alice foram os livros, uma vez que a infância solitária a atirou para o único mundo que lhe abria as portas: a literatura. Pequena, aprendeu a ler e a escrever sozinha. Com o passar dos anos, Alice foi fazendo amigos em cada uma das peripécias que viveu: jornalista desde a adolescência, Alice Vieira sempre teve o olhar atento a qualquer pormenor que lhe despertasse uma história e, consequentemente, um livro. As histórias hoje são muitas e, bem como os amigos, são a sua vida.
É o seu amigo de longa data José Oliveira que conta que “a Alice lê por necessidade. É algo que está dentro dela, faz parte da sua personalidade. Simplesmente não o consegue evitar”.
Alice Vieira caracteriza-se como “a rapariga que mais cedo saiu de casa”. Tinha 15 dias quando os pais a mandaram morar com familiares. Porquê? Hoje, com 64 anos, Alice ainda não sabe. Não era um problema económico, uma vez que a sua família era burguesa. “A minha mãe teve três filhos, todos com um ano de diferença, e deu-os a todos. Ela não tinha qualquer instinto maternal”, conta Alice, hoje mãe e avó. Durante a infância, Alice Vieira viveu em casarões, com tias e criadas velhas. “Uma vez, quando era pequena, estava debaixo de uma mesa a ouvir os meus pais e tias a decidir para que casa é que eu iria morar a seguir”, conta a autora. E continua: “os meus familiares não se sentiam obrigados a tomar conta de mim e estavam sempre a demonstrá-lo”. Para além disso, simplesmente não a deixavam sair de casa. No pavor das doenças, a tuberculose era o maior medo das tias velhas. “Uma história que as minhas tias me venderam durante muito tempo foi a de que a minha mãe tinha ficado com tuberculose por minha culpa, que ela tinha ido para o Caramulo por minha causa”, confessa Alice. Só há pouco tempo descobriu que era mentira.
Alice Vieira garante que se habituou a estar sozinha, arranjando amigos nos livros, arranjando algo com que se entreter nos livros. Começou a escrever com cerca de 4, 5 anos, já não se recorda bem. Mas sabe que foi sozinha. Não tinha amigos e só no liceu teve contacto com pessoas da sua idade. Os seus amigos acabaram por ser os livros durante toda a sua infância, o que marcou a sua personalidade: “O grande isolamento a que as tias a obrigavam fez com que lesse muito e desenvolveu nela uma grande capacidade de reflexão sobre o que está à sua volta”, explica Duarte Mexia, grande amigo da escritora.(...)»
«Rosa, minha irmã Rosa surgiu de um desafio dos filhos de Alice e um incentivo do então marido, o jornalista Mário Castrim. Depois de Catarina e André, os filhos de ambos, se terem queixado de não terem mais nada para ler, Alice propôs escreverem um livro juntos. De uma frase surgiram muitas outras. De um capítulo nasceram muitos outros. E, em 1979, nasceu Rosa, minha irmã Rosa. Nesse ano, a Editorial Caminho promoveu um prémio de originais, o Prémio de Literatura Infantil para comemorar o «Ano Internacional da Criança». Incentivada pelo marido a participar, Alice acabou por ganhar o prémio. Na altura jornalista do Diário de Notícias (DN), a sua vertente de escritora não era conhecida. Aliás, este foi o primeiro livro que escreveu e fê-lo apenas para os filhos. Depois de Rosa, minha irmã Rosa a Caminho publicou cerca de 30 obras de Alice para os mais novos. Chocolate à chuva, Lote 12 – 2º Frente, Flor de Mel, A lua não está à venda são algumas obras com as quais os jovens se deliciam. Sendo considerada das melhores escritoras infanto-juvenis pelos colegas e mesmo pelo mundo literário…»
(Retirado do site: www.oamador.com)

A Felicidade

Era uma vez um vale onde viviam todos os Sentimentos: o Orgulho, a Vaidade, a Bondade, a Tristeza, a Inveja… Na última casinha deste local vivia o Amor e era graças a ele que todos estavam unidos. O Amor tinha uma filha, a Alegria, que ajudava o pai a unir os Sentimentos. Sempre que o Amor e a Alegria partiam, todos os Sentimentos se aborreciam e zangavam, já que não havia ninguém para uni-los.
Nunca chovia, pois era a terra mais feliz do mundo. Se chovesse, as crianças não poderiam brincar. Se chovesse, os homens não poderiam trabalhar a terra.
Por este motivo, os Sentimentos iam buscar água a um riacho perto do vale. Muitas vezes, as crianças não tinham nada para fazer e então ajudavam os seus pais a trabalhar a terra e as suas mães a cozinhar e a limpar a casa. No vale nunca mudava de estação, por isso existia sempre sol. As crianças tomavam banho no rio e apanhavam sol nas suas margens. Também não existiam animais domésticos; para os seus habitantes, os animais faziam parte da natureza e conviviam com eles naturalmente.
Um dia, caiu uma grande tempestade e todos se salvaram excepto o amor e a alegria, pois andavam à procura dos amigos para tentar salvá-los caso estivessem em perigo. Quando a tempestade acabou, todos saíram das suas casas e viram o Amor e a Alegria caídos no chão, sem se mexerem. Quando já todos estavam desesperados, pensando que tinham partido para sempre, apareceu um sentimento especial, que lhes tocou muito levemente. Ao sentirem aquele toque mágico, despertaram! Descobriram, então, que o visitante mágico era a Felicidade! Amor e Felicidade conheceram-se e apaixonaram-se. Casaram algum tempo depois e viveram felizes para sempre.
Sempre que recordo este episódio, penso no motivo que terá levado ao despertar do Amor e da sua filha…. Na verdade, o Amor pensava demasiado nos outros e não se preocupava consigo. Todo o vale era feliz, menos ele. Assim, quando a Felicidade lhe tocou, passou-lhe um sentimento de bem-estar. Isso mudou tudo, pois finalmente alguém se preocupara com ele!

Maria João Barbosa nº 19, 6º B