domingo, 26 de outubro de 2008

O Aniversário da Maria



«Maria, uma menina de doze anos, mas já com gostos requintadíssimos, escovava ritualmente os seus belos cabelos negros e espessos em frente ao espelho do toucador, repleto de fitas, bandoletes e perfumes, provocando inveja em todas as suas amigas. Era muito magra e preocupada com a linha e dedicava mil cuidados à sua pele branca e macia, receosa que alguma borbulha, própria da idade, pusesse em risco aquela sua beleza exótica. Adorava passear pelas lojas chiques da “Prada” ou do “Dolce & Gabanna”, enfim, pode dizer-se que “vivia bem”! Os pais eram ambos advogados e rodeavam a filha, a única que tinham, de mimos continuados e até excessivos. Preocupados, porém, com a sua educação moral, não se esqueciam de lhe repetir: “— Lembra-te, o que importa são os gestos de carinho e não o número de presentes!” Assim, Maria aprendeu a repetir esta pequena expressão em todas as festas e ocasiões sociais em que participava, como uma menina de bem, ao mesmo tempo que a afogavam em sofisticadas ofertas, sempre no “top” das últimas novidades para jovens.
Chegou o dia do seu aniversário. A festa era notícia no jornal da escola e ia passar-se na vivenda dos pais, em Queluz. Os imensos jardins da casa estavam todos iluminados e pequenas mesas com aperitivos e refrescos aguardavam os convidados. O salão de jantar estava enfeitado com grinaldas e balões coloridos, as paredes forradas com retratos de família em grossas molduras douradas, e sobre a enorme mesa, coberta com uma riquíssima toalha de linho, que pertencera à sua bisavó, estava o bolo de aniversário, de vários andares!!!
A Maria esperava ansiosamente pelas 20h:45, a hora a que chegariam os convidados e… os presentes! Já estava à espera há muito tempo do Iphone com o design da Apple prometido pelo pai. Finalmente, chegara o momento tão esperado: foi desembrulhando uma a uma, sempre com um sorriso nos lábios, as prendas que lhe entregavam logo à entrada as dezenas de parentes e amigos, próximos e distantes, que iam chegando. Até que a sua própria mãe lhe entregou um pequeno embrulho com um carimbo de “correio expresso”. Era a prenda do pai que, retido em França por um imprevisto de trabalho, lhe enviara assim o presente prometido.
Era mesmo o Iphone que ela queria! Mas, de repente, Maria sentiu os seus olhos ficarem húmidos de lágrimas e, rodeada por tantos presentes caros, não conseguiu sentir-se verdadeiramente feliz. Pareceu-lhe, naquele momento, que trocaria tudo aquilo por um simples beijo do pai que estaria ali, ao seu lado, sorrindo para ela como a dizer que a teria sempre guardada no seu coração!
Foi só então que Maria compreendeu, bem no fundo de si mesma, o significado daquela frase que tantas vezes repetira para mostrar as suas boas maneiras: “O mais importante é o carinho…” E ter compreendido isto deu-lhe, de súbito, ânimo para levantar os olhos e ir apagar as velas. Sentia-se muito mais feliz consigo própria!»

Eva Couto
6°A, n°10

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